Confesso… Hesitei em ser mais uma a falar de quarentena… Mas tenho notado que não vivo uma quarentena semelhante à maior parte das pessoas que me rodeiam. Vivo uma quarentena…com espaço.

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  Posso sair à rua. O espaço da quinta permite-me isso e juro que nunca me tinha apercebido tão bem do luxo que é. Não me sinto fechada, não me sinto ansiosa, não me sinto presa. Sinto-me diferente, como aliás todos nos sentimos: cada um adaptado à sua realidade.

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  Tenho saído à rua. Tenho ajudado nas tarefas do campo. Tenho cortado relvas. Tenho feito isso e tudo mais. Dou pequenas caminhadas e corridas no meu espaço. Faço exercício – no meu espaço. E, vejam lá bem, até já me bronzeei em pleno março – no meu espaço.

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  Não escrevo com interesse nenhum em me mostrar melhor do que os outros. Longe disso. Escrevo isto, porque acredito que as coisas têm uma razão, que o Universo encontra as suas formas de se equilibrar. Acredito mesmo.

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  Escrevo isto, porque acredito que não é preciso espaço para amar, não é preciso espaço para sentir, não é preciso espaço para superar. Mas sim, é, de facto, preciso espaço para cuidar.

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  Que tudo volte ao normal rapidamente. Que voltemos a estar juntos e a valorizar esses momentos como nunca antes. E que, entretanto, continuemos esta luta todos do mesmo lado – algo que acho que nunca mais vou assistir. Que continuemos a aconselhar, a cuidar e a apoiar. Que continuemos a fazer a nossa parte, tendo em conta que nem tudo é mau e que, pela primeira vez em alguns anos, demos a oportunidade ao nosso planeta de parar e respirar fundo. Que fiquemos cientes disso.

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Inês Lourenço