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QUINTA, 28 MAIO 2020

HABITUAL NÃO É NORMAL

                No dia 10 de março de 2020 a Universidade mandou-nos para casa e, quase desde então, estou em casa em confinamento. Sim, esperava que isto acontecesse. Não, não esperava que fosse demorar tanto tempo e com tantas consequências. Mas a verdade é que nos primeiros dias em casa ficava a par dos números, com aquele nervoso miudinho quando atingimos os 100, e depois os 200 e depois os 300 e depois… Depois não sei. As coisas começaram a passar ao lado de quase todos. 300 ou 1000 infetados parecia quase a mesma coisa. Esquecemo-nos dos números e começámos, de dias a dias, a ver apenas os novos casos e os que tinham morrido. Com o tempo os 1000 infetados já era passado e já havia 1000 mortos.

                E com tudo isto começou o desconfinamento, porque sim, eu sei, não podemos estar eternamente em casa com o país nem a meio gás. Mas acho que muita gente confundiu o crescimento constante de casos e mortos com normalidade. Saem à rua desnecessariamente, vão aqui e ali, baixam a máscara, porque está calor e, vamos ser sinceros, são só dois dedos de conversa… E sabem do que tenho mais medo? É que estes 76 dias que passei em casa não tenham servido de grande coisa, por causa dos dois dedos de conversa e das cervejas à porta do café lado a lado. Eu percebo, as pessoas também têm de arejar a cabeça, as pessoas também têm de ver outras pessoas. Mas sabem uma coisa? Já tive com duas amigas fisicamente nestes 76 dias após a quarentena obrigatória e, para além de estarmos na rua, pusemos os carros à distância umas das outras cerca de 3m, sentámo-nos na bagageira e falámos à distância. E sim, estamos as três há 76 dias em casa, pelo que podem pensar que não há risco, mas a verdade é que não sabemos onde ele está. Se está naquela vez em que precisei de ir ao supermercado… Tirámos uma foto. Para recordar, um dia, como conseguimos ver-nos sendo responsáveis, sem toque, mas com sorrisos, sem abraços, mas com gargalhadas, sem beijinhos, mas com muita muita cumplicidade e respeito.

                Não pretendo dizer para ficarem em casa. Afinal, quem sou eu para vir agora que está tanto sol e calor pedir o mínimo de distanciamento? Não pensem que está cada um por si, porque estamos cada um por todos. E, por favor, percebam que habitual não é normal e ainda não está tudo bem. Irá estar.

Inês Lourenço

AINDA É POSSÍVEL SORRIR...

QUARENTENA...COM ESPAÇO

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