SEGUNDA, 20 JULHO 2020
AINDA É POSSÍVEL SORRIR...


Eu juro que pensei em escrever algo que nos levasse para além da pandemia, mas confesso que este tema me pareceu adequado e sincero.
No outro dia saí à rua - sim, estou a desconfinar com responsabilidade -, mas, de certa forma, senti-me algo confinada. Pode parecer ridículo, mas todo e qualquer cruzamento com as pessoas me pareceu distante e impessoal (pois, sim, distante, na verdade, convém!), mas algo frio... Apercebi-me que costumo sorrir, muito. E, por mais ridículo que possa parecer, apercebi-me de que, na rua, quando passo por algumas pessoas e cruzamos olhares, sorrio automaticamente. E foi aí que dei conta que tinha uma máscara a cobrir-me grande parte da face. Fez-me confusão, confesso. Fez-me confusão porque, felizmente, nunca tive até hoje uma situação onde precisasse de utilizar máscara na rua e agora sinto-me, de certa forma, presa por não mostrar algo que gosto - o meu sorriso. E descartem lá a ideia de que é vaidade; não é. Apenas me apercebi há uns tempos que sorrir para alguém que desconhecemos tanto nos torna mais felizes, como pode fazer alguém sentir-se muito bem no meio de um dia agitado.
Foi aí que fui para casa e - estupidamente, pode-se dizer - me pus em frente ao espelho. O resultado foi mais ou menos o das fotografias. Sabem que mais? O sorriso vai muito além da nossa boca, dos nosso lábios. O corpo sorri e, o melhor de tudo, é o sorriso dos olhos. Eles sorriem tão ou mais do que os lábios e transmitem tanto. Portanto, no meio desta história toda, o que quero pedir é que não deixem de sorrir. Os outros reparam, os outros vêem, os outros sentem. Sorriam, porque há esperança. Sorriam, porque ainda é possível sorrir...
Inês Lourenço